Homossexualidade e homofobia na escola?
O que leva um ser
humano a agredir, e às vezes, até matar, outro ser humano, somente por
preconceito.
Se compararmos o
comportamento do “BICHO” homem com outros animais, poderemos entender uma
atitude violenta como reação a uma ameaça real à sua vida. O instinto de
sobrevivência motiva a legitima esse comportamento “exaltado” de
autopreservação.
A natureza é
pródiga em exemplos desta lógica simples, cruel e em geral violenta da
sustentação e perpetuação da vida. O que justificaria, no entanto, atos de
violência não justificados por esta lógica “natural” contra pessoas que gostão
de pessoa do mesmo sexo delas?
Sigmund Freud, médico neurologista criador da psicanálise, formulou
uma teoria chamada de “Projeção” para explicar um mecanismo de defesa em que um
individuo atribui inconscientemente a outro ou a outros indivíduos pensamentos
ou emoções particulares que lhe são inaceitáveis ou indesejados. A projeção
psicológica reduz a ansiedade por permitir a expressão de impulsos
inconscientes, indesejados ou não, fazendo com que a mente consciente não os
reconheça. Um exemplo de tal comportamento pode ser de culpar determinado
individuo por um fracasso próprio. Isso
justificaria, de acordo com algumas teorias, o medo que o homofóbico tem de se sentir
atraído por alguém do mesmo sexo e o desejo rejeitado e projetado para o outro
se manifestaria por ações homofóbicas.
Homofobia: Respeite |
Segundo o médico psiquiatra e psicanalista Estevam Vaz de Lima,” em termos muito gerais, os seres humanos tendem a desenvolver preconceitos com bastante facilidade em relação a si mesmos ou em relação a tudo o que seja diferente e variante em relação a si mesmos ou em relação ao do grupo ao qual pertence. A gente observa isso em relação a raças, religiões, nacionalidades e até mesmo tipo de futebol. Se, por um lado , os seres humanos são capazes de grandes ações heroicas, amorosas ou criativas, igualmente são capazes da violência mais extrema na mídia diária não faltam exemplos disso.
O psiquiatra acrescenta que “em relação à homossexualidade, há alguns aspectos que tornam a questão muito mais sensível, na medida em que toca diretamente a identidade de cada um e a sexualidade humana. No caso, não se trata de “qual igreja ou templo você frequenta”, nem de “onde você nasceu, mas de “onde você nasceu”, mas daquilo que você é. Assim, a agressividade contra homossexuais pode ser definida, em primeiro plano, como uma agressão contra aquilo que você não gostaria de ser. Mas aí vem a pergunta: Por que, entretanto, algumas pessoas têm uma atitude mais tranquila e tolerante com os homossexuais e outros são absolutamente intolerantes e agressivos, caracterizando-se como homofóbicos? Infelizmente, para desconforto dos homofóbicos, a frase acima teria a seguinte versão: agressão contra aquilo que você não gostaria de ser, mas que, além disso, tem muito medo de ser.
Para dizer de
forma simples e reduzida, o homofóbico tem alguma percepção inconsciente de sua
própria homossexualidade. Ele agride o homossexual
que encontra na rua porque, de certo modo, está atacando e tentando
destruir a própria homossexualidade. I
pode parecer “psicologismo” mas não é. Além das teorias psicanalíticas em que
se baseia essa noção, hoje em dia há estudos que comprovam que homens homofóbicos têm reações fisiológicas ( intumescimento
peniano ) mais intensos que os não homofóbicos
quando expostos a cenas eróticas homossexuais,
embora conscientemente neguem que tenham se sentido excitados, explica Lima.
Absurdo com o próximo |
Comentário: “Infelizmente, para desconforto dos homofóbicos, a frase acima teria a seguinte versão, agressão contra aquilo que você não gostaria de ser, mas que, além disso, tem muito medo de ser.
Homossexualidade e Homofobia:
“Creio que se
trata de duas situações muito diferentes uma da outra”. Esclarece Lima. “Ser homossexual é uma questão de
identidade sexual, é um aspecto que pertence à estrutura profunda da
personalidade ou, em termos leigos, faz parte da natureza da pessoa. Já ter um comportamento homofobico não é algo que esteja inscrito na estrutura mental da
pessoa e é muito mais dependente de fatores educacionais, culturais e sociais.
Quanto ao homofóbico, creio que temos um primeiro
problema que é a própria cultura familiar de onde ele provém. Essa família é
tão preconceituosa quanto ele? Ele aprendeu a ser homofóbico dentro de casa? Se a resposta for sim para as ambas as
perguntas, a situação fica difícil, pois as reações dos pais provavelmente
serão de apoio ao comportamento e às ideias do filho. Precisamos lembrar que
toda forma de preconceito e intolerância envolve sempre um considerável grau de ignorância e, se essa característica
fizer parte da identidade familiar, o cenário que vislumbramos não é nada
otimista. Se, entretanto esta característica do filho, por alguma razão, não
for compartilhada pelos pais, estes podem e devem se esforçar para educá-lo de
acordo com os seus valores éticos, no sentido de desenvolver respeito e
tolerância com os homossexuais,
assim como com os seres humanos em geral, opina por fim o psiquiatra.
Meninos Brincando de casinha?
Como a escola lida com isso?
Houve, a partir dos anos 1960, o início de uma desconstrução dos estereótipos do masculino e feminino que, apesar de ser um processo lento, está em curso na forma de vestir, brincar, na escolha de certas profissões, etc. É claro que essas transformações não acontecem sem temor a resistência por partes de muitos. Meninas jogando futebol? Meninos brincando de casinha? Um estranhamento tomou conta de muitas pessoas, principalmente pais e mães, que muitas vezes manifestam resistência a esse novo estilo de vida, porque rompe uma tradição e abala as crenças muito arraigadas sobre a sexualidade.
Professores e coordenadores de escolas de educação
infantil ainda recebem reclamações das mães sobre brincadeiras na escola que
escapam aos estereótipos em vigor, apesar de mais fracos. E a maioria das reclamações
é de mães e pais de meninos.
Nossa herança moral como país católico também ajuda a
reforçar esse caráter normatizado da conduta sexual. Se é verdade que a igreja
não condena o homossexualismo,
não pode aceita-lo como pratica porque “também entende que a complementaridade
dos sexos seja parte do plano de Deus para a humanidade. Atos sexuais entre
pessoas do mesmo sexo são incompatíveis com essas crenças”- ( Catecismo da
igreja católica, parágrafo 2357).
Diante dessas considerações, a escola deveria ser o
espaço de promoção da cidadania e respeito às diferenças e diversidades, já que
é, teoricamente, composta por pessoas de vários grupos com costumes diferentes,
religiões, raças, opções sexuais, enfim, uma intensa diversidade cultural. Mas
o que se observa é uma grande distância entre o discurso “politicamente
correto” e a realidade.
O desafio de trabalhar a diversidade homossexual
requer que a escola enfrente inúmeras barreiras impostas, mesmo que
veladamente, pelos alunos, pais e pela própria instituição. Entre os alunos,
existem os que são homofóbicos, não aceitam a inclusão dos homossexuais,
adotam postura agressiva e
refratária ao dialogo de aceitação e inclusão. Há também os que não compactuam
com esse comportamento agressivo e discriminador, mas se abstêm de opinar sobre
o tema, até para se pouparem de
serem eles também alvo de provocação e agressividade pelo simples fato de não
se envolverem. E há, logicamente, os alunos homossexuais, que, segundo
depoimento de Arlete Bruscagim, educadora, algumas vezes “ameaçam” se abrir,
parecem buscar o diálogo, mas em geral recuam, calam-se. O silêncio pode ser
motivado pelo medo de se exporem perante os colegas, mas também de expor os pais. Os poucos que “saem
do armário” convivem com brincadeiras leves e pesadas, são marginalizados, mas
as vezes fortalecidos, quando encontram em um grupo um ponto de referencia e
identificação. Alguns homossexuais se
“defendem” dentro do contexto grupal assumindo
“papéis”: o estereótipo do “feliz” é bem comum. Em bairros onde se observou um
enriquecimento recente, dos ditos emergentes, parece haver mais resistência das
famílias para encarar com normalidade mudanças dos estereótipos.
Bullying: Diga não |
Para Arlete
Bruscagin, a profissão do professor está com os dias contados. Se o professor
não se limitar a passar a matéria sem incomodar os pais com solicitações
absurdas em relação aos filhos, podem colocar o emprego em risco.
Rosely. Sayão
ilustra isso muito bem – A escola sob pressão: Há uma grande pressão, por
exemplo, por notas altas ou, pelo menos, por notas que permitam a aprovação do
filho. E quando as notas não alcançam o patamar esperado e/ou desejado pelos
pais, estes costuma pensar que a escola não cumpriu o seu papel de alerta-los a
respeito do fato, agora quase consumado, para que pudesse tomar algum tipo de
providência em relação a esses alunos; expulsão branca, por exemplo, os pais
acreditam que ela não serve para o filho.
A verdade é que a
escola está obsoleta, resiste a se renovar, não sabe ao certo o que significa
educar para a cidadania, insiste em um modelo totalmente ultrapassado, acredita
que seu papel ainda é o de transmissão de conhecimento, e trata os pais como
consumidores de educação. Pai, hoje, é patrão na escola, e os filhos já se
tocaram disso, afirma Arlete Bruscagin e Rosely Sayão.
O papel dos pais:
Neste contexto,
qual o papel dos pais? A meu ver, a reação dos pais a homossexualidade de um
filho deve ser marcada por tolerância e respeito, opina o psiquiatra Lima. A
vida dos homossexuais, homens ou
mulheres, a despeito de toda a abertura e liberdade do mundo moderno, ainda é
marcada por muito sofrimento, que pode incluir desde a dificuldade íntima para
lidar com a identidade sexual, o temor de reprovação pelos familiares e da exposição
no ambiente escolar e social, a necessidade de muitas vezes esconder essa identidade,
eventuais humilhações, exclusões de grupos e, eventualmente, agressão verbal e física.
Considero que os pais devem funcionar do modo que funcionariam com qualquer
filho. Favorecer o desenvolvimento e fortalecimento de sua personalidade,
dar-lhes acolhimento quando necessário e encorajá-los na aventura de viver nos
momentos em que isso é preciso.
Homofobia se aprende, sexualidade não. |
Não existe fórmula para isso, não existe certo nem errado. Se ninguém nasce com manual de instrução para facilitar a vida de quem vai cuidar dele é porque esse cuidar depende de valores imponderáveis como bom senso
Dr: Paulo Branco
paulobranco@terra.com.br
blog da saude gay.
- Matéria publicada na revista Psicologia, 2014.
- Ilustrada com fotos retiradas da internet, de outras matérias.
- O motivo de ter colocado esta matéria no meu blog é educativo, porque é com essa linha de comportamento que iremos amar o próximo.
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